O que pode ser melhorado

Distribuição de Renda

É conhecida a triste liderança brasileira, no que se refere às desigualdades sociais. Possuímos uma das piores distribuições de renda do mundo, por razões que têm raízes no nosso passado histórico e que também derivam dos aspectos perversos do padrão de crescimento baseado na industrialização substitutiva de importações.

Tomando como base as experiências de abertura das economias e de reestruturação produtiva, tanto no mundo desenvolvido como no mundo em desenvolvimento, a tendência desses processos, quando não contrabalançados por enérgica ação do governo, tem sido aumentar a desigualdade na distribuição de renda.

Pela situação anteriormente existente e dados os limites impostos pela necessidade praticamente invariável da abertura econômica e da reestruturação produtiva, é fundamental incorporar a preocupação com a distribuição de renda, nas políticas de governo.

Mas não é possível enfrentar o problema apenas por meio de políticas específicas, voltadas para promover a distribuição direta da renda, apesar do papel importante e inovador que possam ter, a exemplo dos programas de renda mínima. De novo, o enfrentamento dessa questão, que afeta, inclusive, a eficácia das políticas sociais, se faz por meio do conjunto das políticas de governo.

O crescimento econômico pós-Real é a melhor demonstração dessa lição: gerou postos de trabalho (tabela 5) e elevou o consumo (tabela 6), além de ter permitido um aumento dos gastos sociais do governo (gráfico 5).

Tabela 5

Crescimento e emprego - 1990/1995

Ano

Taxa de crescimento PIB

Novos postos de trabalho geral

Taxa de crescimento da indústria

Novos postos de trabalho na indústria

1990

-4,3

531.538

-8,90

-11.592

1991

0,3

-1.785.888

-2,61

-663.396

1992

0,8

-89.123

-3,73

-269.854

1993

4,2

210.603

-7,25

-8.126

1994

5,8

369.387

7,93

7.084

1995

4,0

411.734

2,9

54.395

Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego e Contas Nacionais

 

Tabela 6

Vendas no comércio varejista de São PauloTaxa de Crescimento Anual

Ano

Consumo geral

Bens duráveis Veículos

Total

Bens semiduráveis

Não-duráveis

1990

-24,1

-20,5

-22,9

-32,3

-24,2

1991

-28,8

-13,1

-37,3

-34,4

-27,7

1992

-12,3

5,6

-29,9

-30,0

-4,2

1993

15,3

25,7

17,0

17,6

5,3

1994

16,3

10,8

35,8

14,1

8,2

1995

3,2

11,9

14,2

19,2

5,3

Fonte: FCESP
Elaboração: IPEA/DIPES

Gráfico 5


 

Por outro lado, nunca é demais colocar ênfase nos benefícios da estabilidade, seja atuando diretamente na questão social; seja indiretamente, por meio de oferecimento das condições favoráveis ao crescimento econômico. Em termos de curto prazo, o resultado imediato da queda da inflação pôde ser visto, claramente: aumento do poder aquisitivo da população de mais baixo nível de renda, aquela que possui menos defesas contra a corrosão inflacionária; e restauração dos mecanismos de crédito, permitindo a ampliação do mercado de bens duráveis. Em outras palavras, ocorreu um primeiro passo na desejada distribuição de renda, evidenciado por diversos indicadores, tais como o consumo de alimentos e aquisição de bens duráveis, entre outros, como se pode ver pela tabela 6.

Pode-se afirmar, assim, que o combate à hiperinflação constitui, por si mesmo, uma política antipobreza, visto que procura eliminar todas as perdas que a inflação inflige aos mais pobres. Recente pesquisa do SEADE/DIEESE mostra que, entre junho de 1994 e setembro de 1995, o rendimento real médio dos 10% ocupados de menor renda cresceu 14%, evidenciando o fenômeno acima descrito. Para demonstrar esse comportamento, destacamos a análise recente publicada na Carta de Conjuntura do IPEA, baseada nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego - PME/IBGE, cujos principais resultados estão apresentados na tabela 7 e no gráfico 6.
 

Tabela 7

Decis da distribuição de renda domiciliar per capita (%)

 

2

3

4

5

6

7

8

9

10

12m pré-real (1)

-24.37

-11.75

-8.92

-7.59

-6,02

-4.17

-2,00

3.92

9.67

Transição (2)

33.14

24.06

23.88

23.64

24.42

23.91

23.75

22.94

19.40

12m pós-real (3)

29.70

29.80

26.57

25.28

22.10

19.14

18.04

17.46

7.32

Fonte: PME - IBGE
Notas:(1) Junho de 1993 a junho de 1994.
(2) Junho de 1994 a setembro de 1994.
(3) Setembro de 1994 a setembro de 1995.
 

Conforme é possível observar, na tabela 7, a renda real (do trabalho) domiciliar per capita de quase todos os decis de renda diminuiu, entre junho de 1993 e junho de 1994, sendo progressivamente mais fortes nos decis mais pobres (2, 3, 4 e 5), chegando a uma perda superior a 20% no decil 2. Entre julho e setembro de 1994, no entanto, a renda real (do trabalho) domiciliar per capita cresceu em todos os decis, chegando esse ganho a ser superior a 30% para o decil 2 e em torno de 20% para os demais. Finalmente, a renda real (do trabalho) domiciliar per capita também cresceu em todos os decis, entre setembro de 1994 e setembro de 1995, chegando esse ganho a ser, também, de cerca de 30% para os decis mais pobres (2 e 3) e acima de 20% para os decis 4, 5 e 6. O gráfico 6 sintetiza de forma exemplar essas informações.

Gráfico 6


Fonte: IPEA, Baseado em Dados de Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE

Para aumentar os ganhos obtidos até agora e aprofundar uma política de efetiva distribuição de renda, convém mencionar alguns aspectos da preocupação do Governo, neste momento:

a) investir nos fatores que contribuem para melhorar a igualdade de oportunidades, o que é papel do conjunto das políticas sociais;
b) proporcionar proteção contra situações estruturais de risco: papel da seguridade social;
c) proteger os mais fracos, no conflito distributivo: criar condições para facilitar a negociação, proteger, institucionalmente, a capacidade dos diferentes segmentos para a reivindicação e eliminar situações de alta vulnerabilidade;
d) buscar maior solidariedade tributária;
e) negociar e implementar uma proposta básica: criar as condições para uma repartição marcadamente redistributiva dos resultados do novo surto de crescimento.

 


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